domingo, dezembro 30, 2012

Drissíadas 2013

Driss é um party-animal. Não há dúvidas quanto a isso. Ele quer lá saber da crise, dos impostos, das privatizações e dessa trampa toda – because Driss just wanna rock on! E cá estamos nós, à porta de mais um réveillon, a altura do ano em que Driss larga os tapetes e os ramadões para curtir que nem uma besta.
Este ano, Driss orquestrou um mega-evento: as chamadas “Drissíadas”, um acontecimento épico que se orgulha de receber os contributos de personalidades dos mais variados quadrantes. Se Driss também já é tradição, este ano Driss vai presentear-nos com a justaposição. So check this out.








Esperemos que vocês também se divirtam com as Drissíadas e deixamos os nossos sinceros votos, em nome de toda a Administração desta vossa SAD, para que 2013 possa ser tão bom quanto o pior de 2012. Ou melhor, que o pior de 2013 seja tão mau quanto o melhor de 2012. Isto é, que o pior de 2012 nunca mais se repita, a não ser que seja o pior do melhor de 2013. Quer dizer… nah, que se lixe: safem-se de 2013 da melhor forma que puderem.

quinta-feira, dezembro 27, 2012

Uma Vida Escavacada

Em 1995, ele era o parceiro predilecto do Pauleta no Estoril. Uma frente de ataque de respeito, com Curcic e Artur Jorge Vicente a coadjuvar. E já nessa altura, como agora, se podia dizer com propriedade que “os amigos do Cavaco safam-se bem”. O Cavaco, porém, não se safou tão bem. Quer dizer, houve piores, mas após um início auspicioso e até eufórico, a imagem dele destroçou-se com o tempo. Espalhava-se aos quatros ventos que ele era um especialista no difícil mester do golo, mas não fez a bola beijar as redes como o povo aspirava. E o povo cansou-se de pagar bilhetes cada vez mais caros para tão deploráveis espectáculos. Responsabilizaram-no por más épocas; ele tentou manter a pose e sair de fininho. Um movimento táctico que deixou de funcionar, até para os olhos menos analíticos e mais apaixonados dos meros treinadores de bancada.

Hoje em dia, pese embora o seu relativo obscurantismo e a postura taciturna, é um tipo que anda nas bocas do mundo – quase sempre pelas piores razões. Toda a gente diz “o Cavaco isto”, “o Cavaco aquilo”, “o Cavaco devia estar calado”, “o Cavaco sobre isto não diz nada”, “o Cavaco que venha ver isto”, “o Cavaco que se deixe estar quieto”… o Cavaco nunca está bem e já enjoa. As cavacas não; mas o Cavaco sim. O Cavaco podia ser mais fixe como o outro. Mas agora já não vai a tempo: o Pauleta só lhe fala por ocasiões estritamente oficiais e para manter o protocolo; o Curcic preferiu outras figuras para comporem os prefácios das suas obras de literatura infantil; o Artur Jorge Vicente disse que o ia visitar ao Algarve, o local de eleição onde passou várias temporadas, mas até agora nicles, safa-se com desculpas tão esfarrapadas como “ah, o sumo das laranjas do teu quintal faz-me mal ao pâncreas”. O Cavaco diz que tem uma conta bancária depauperada, perdeu amigos e anda triste, mas nós andamos mais tristes com ele.

Agora, equaciona mudar o nome para Pássaro – um belo apelido que esteve sempre ali à mão, a seguir ao tradicional Luís Miguel –, só para mudar de ares e quiçá voar daqui para fora quando fartar-se disto a sério. Como uma andorinha, antes que o chamem abutre.

domingo, dezembro 23, 2012

Natal É Rudi (E Mais Qualquer Coisinha)



Natal é tradição. E a tradição de Natal é mais que um bolo-Rodolfo-Reis, é mais que uma árvore de Natal com embrulhos ao seu redor, é mais que as capas ridículas dos jornais desportivos. Tradição de Natal é Rudi.

Rudi, que por causa do seu belo penteado à tigela, ganhou a audição para novo vocalista dos Weezer, batendo Medane aos pontos. “Uma questão de atitude”, confidenciou-nos o management da banda. Portanto, a tradição é Rudi mas Rudi desafia a tradição. Já estou a ver “The Sweater Song” cantada em transmontano com sotaque balcânico e um clip cheio de alheiras.


Natal é Paixão. Natal é Hamori. Afinal o Natal é o quê?

O Natal é o que nós quisermos que seja, sempre quando quisermos que seja. Porém, a gente costuma dizer que primeiro vem o Paixão e só depois chega o Hamori. O Paixão é uma força assolapada que nos ataca de pitons em riste, pleno de rebaldaria e fogoso com os seus cabelos insubmissos que mais parecem uma hidra de sete cabeças. Já o Hamori chega de mansinho, instala-se subrepticiamente no nosso âmago, é discreto e lavadinho como se acabasse de sair do banho, mas não duvideis do seu forte pontapé. O Paixão passa bem sem o Hamori mas, não raras vezes, o Hamori começa após um tackle eficiente do Paixão. E por isso é que dissemos que primeiro vem o Paixão e só depois vem o Hamori. O que nem sempre é verdade, mesmo quando tudo nos leva a pensar o contrário.


Por exemplo, na situação acima, o carro nº1 conduzido pelo Paixão, um Peugeot 206 verde com aileron traseiro e luzinhas roxas a debruarem as suas partes baixas, avança maneiro pela estrada fora, com o stereo a debitar inanidades sonoras indiferente a tudo ao seu redor; está confiante que terá prioridade sobre o Hamori, a vetusta espécie de furgão branco com o nº2, que se aproxima vagarosamente do cruzamento pela sua esquerda. Contudo, há um ríspido sinal STOP que faz com que Paixão trave bruscamente, eventualmente com o auxílio do travão de mão, de modo a evitar as sempre lamentáveis colisões mortais entre Paixão e Hamori – verdadeiras visões doentias onde a amálgama de despojos deixa o espectador confuso sobre o que seria aquilo realmente, se Paixão ou Hamori, com resultados por vezes devastadores para a saúde mental dos próprios transeuntes. “Maldição!”, brama Paixão, enquanto o Hamori, tranquilamente, avança a sua inexorável marcha.

E se é João Catatau a validar esta situação, nós nada podemos argumentar.



Natal é magia. Só isso explica que Zeferino Boal esteja na calha para ganhar a votação que por ora se encontra no canto superior direito deste vosso humilde blogue. Será a primeira votação que Boal ganhará na sua vida, mesmo considerando as votações para delegado de turma e para administrador de condomínio. A boa estrela que guiou os Reis Magos está também a ajudar o nosso dedicado Zeferino a encontrar o seu caminho. O papa pode dizer adeus à vaca e ao burro no presépio, mas não pode fazer nada quanto à força mística de Zeferino. No Natal canta-se pela glória de Boal.

Um feliz e cromífluo Natal a todo o povo da bola.

domingo, novembro 18, 2012

Lima + Gabi

Há quase cinco lustros, era este o Lima que dava que falar lá para os lados da Luz. Também ele brasileiro, também ele um voraz animal de área. As primeiras impressões não podiam ser melhores. Cromísticamente falando, claro. Uma camisa com um desenho de gosto duvidoso bem abotoadinha até ao topo e um corte de cabelo que pedia meças ao MC Hammer falaram mais alto que o optimismo cândido de Lima. Mas Gabriel, o Mestre Gabriel a viver tempos de hegemonia comentarista, é que foi o verdadeiro mestre de cerimónias neste caso. Incisivo nas perguntas, directo na abordagem, entrou logo a pés juntos no futebol falado cheio de rodriguinhos pueris de Lima. E Lima, perante a tentativa de Gabriel em conter a sua superior risada, lá disse que na pequena-área desenrasca-se como pode, mas que gosta de jogar acompanhado e de usar o pé direito. Gabriel então despachou este Lima. Aguardou pela chegada do próximo convidado, o já então célebre e ancião Pinto de Sousa. Vejam então o que fizeram ao Gabriel Alves, ao supremo Mestre Gabriel dos velhos tempos. Não se faz. 

quarta-feira, outubro 10, 2012

O Que Faz Falta



O que faz falta ao Sporting?

"Uma direcção nova!”, clamou-se. Dias da Cunha estava caquéctico, Soares Franco gostava mais de outras coisas, Bettencourt fez o Zeferino Boal parecer credível e Bruno Carvalho cheirava a populismo… para além de ter sido afinado dali para fora. Por isso, Godinho e não chora. Ámen.

Uma equipa nova!”, exigiu-se a seguir. Ouvimos, Senhor. Vieram sul-americanos, holandeses, espanhóis, juniores, internacionais, gente sem joelho e até o Ribas. 

Um treinador novo!”, era o natural passo subsequente. Depois de Paulo Bento, foram como os polícias, sempre aos pares por época. Até chegar Sá Pinto. Aleluia! Hossanas às alturas, era a ressurreição do filho perfeito. O messias. O único capaz de emprestar um rumo de calma e serenidade a um clube aturdido. 

Sá Pinto. Calma e serenidade. Todos pressentimos o resultado.

O que faz falta é mudar de estádio. Esperem aí, já se mudou. Então mude-se de símbolo. Eh pá, é verdade, também já se mudou. 

O que faz falta é animar a malta!”, já avisava José Afonso. É bonito, sim senhor. Mas é insuficiente, porque a malta desanima-se com muita facilidade.

Não, o que faz mesmo falta é Santa Maria.

Quem? O grupo europop que deslumbra em concentrações de tuning? Duvido, eles não fazem falta a ninguém que já tenha abandonado o circuito turbulento dos carrinhos de choque e que se enjoe com o cheiro de churros e farturas.

Será o central com cara de filho do Tony Carreira, o mais precoce dos prodígios made in Alvalade-Alcochete? É verdade, Santamaria era afinal um menino. Com 16 aninhos apenas, saltou para a ribalta em Chaves, a terra dos sonhos em forma de presunto, num frio Janeiro de 1999. Santamaria, cuja alcunha permanece um mistério para um tipo chamado Ricardo-qualquer-coisa, tornou-se no mais jovem jogador a envergar a camisola sénior dos leões, batendo o ex-assador de leitões Caneira neste record. Em condições normais, ele seria a figura do jogo. Mas aquele foi justamente o jogo da célebre azia de Jorge Coroado. E assim, a falta de Rennie estragou a estreia do púbere central. 

Santamaria, traumatizado por esta infeliz coincidência, regressou ao espremer de borbulhas e demorou um pouco a impor-se junto dos grandes. Talvez um pouco demais. Quando deu por si, já era um jogador maduro a jogar intermitentemente em divisões inferiores. Adeus, vã glória. Por quem és, bisonho record? Nem o sacrossanto nome o salvara de uma existência pouco mais que mundana. A única saída: o exílio dos malfadados, o tépido Chipre. Por lá ainda se encontra, na candura das suas 32 30 primaveras, embora a maior parte da gente pense que já seja avô.
Mas, obviamente, não é o Santamaria central que faz falta ao Sporting. Pelo menos, na óptica do Xandão. É mesmo a Santa Maria, Mãe de Deus, com algum dos seus (grandes) milagres. Mesmo assim, talvez não chegue.

segunda-feira, setembro 10, 2012

Bino e o Herdeiro ao Trono

- Cromos da Bola, SAD: Pergunta-se o desleixado e ocioso leitor se assalariar um avançado de 28 anos originário das divisões secundárias brasileiras será uma aposta segura para um clube de 1º Liga?

- Desleixado e Ocioso Leitor: Bela questão. Mas antes de opinar sobre tão delicada situação, necessito de mais informação. 

- CdB, SAD: Certo. E se o indivíduo em questão contar somente com 172 centímetros de altura, tendo em conta que apenas 1 desses centímetros é dedicado ao pescoço? 

- DeOL: Pode ser complicado. 
Porém, se o tal senhor for useiro e vezeiro na difícil arte que é o molhar do pão na sopa, nunca se sabe. Afinal, obreiros competentes nesse nobre artifício são difíceis de arranjar... 

- CdB, SAD: Pois bem, dileto desleixado e ocioso leitor: após uma rápida consulta aos bolorentos arquivos da SAD cromática (vulgo google), concluimos que 13 golos em 85 jogos não serão necessariamente motivo para uma condecoração do Presidente da República. Ainda por cima em tempos de crise, que andar de autocarro está cada vez mais caro e a reforma do vetusto estadista não dá para tudo. Aliás, como ele próprio já assumiu, coitado. 

DeOL: Espero que dê para comer um bolo-reizito de quando em vez. Hehehe. 

- CdB, SAD: Estimado desleixado e ocioso leitor, como sabe nós aqui no CdB, SAD apreciamos sobremaneira um pequeno apontamento humorístico, até mesmo com uma centelha de ironia, pois uma boa chalaça pode alegrar a mais cinzenta das jornadas. Contudo, rogamos-lhe que se refreie de utilizar zombaria no que respeita a tão insigne personagem. Ademais, "bolo-reizito" é um diminutivo demasiado ridículo para não ser censurado. 

DeOL:  Vai pró caralho, fascista de merda. 

- CdB, SAD: Foquemo-nos no essencial. 28 anos. 172 cms. Divisões secundárias brasileiras. Paucidade de gargalo. Média de 0,15 golos por jogo. 

DeOL: Bigode? 

- CdB, SAD: Afirmativo. 

DeOL: Um sorriso invade-me a face. Prevejo grandeza sublinhada por penugem supra-beiçal. Mas ainda não estou convencido a 100%. 

- CdB, SAD: Compreendo perfeitamente. Na verdade, o currículo entre-quatro-linhas do supracitado artista parece algo frágil. Falemos então de carapinhas oleosas. 

DeOL: Quão oleosa? 

- CdB, SAD: Oleosa 80's. Oleosa testa-de-Cristano-Ronaldo-no-Sporting. Oleosa mão-de-Bossio. 

DeOL: Esse é um bom tipo de oleoso. Assombroso, mesmo. 

- CdB, SAD: Subscrevo. Digamos que o Prince enquanto líder dos Prince & The Revolution em meados de 1986 não lhe pediria meças. 

DeOL: É. Espantoso. Mais nada? 

- CdB, SAD: Uma mosquinha, 43% mais cuidada que a do Bino e 56% mais larga que a de Vítor Pereira. 

DeOL: Homessa! Falamos portanto da mosquinha mais importante do futebol lusitano pós-Bino? 

- CdB, SAD:  Quite possibly, my friend. 

DeOL: Sold.
"pôxa, sou lindo mermo."

domingo, setembro 02, 2012

Skydome Cup: A Taça Que Veio Do Frio (Parte II)


Para que o Luisão seja castigado são necessários mais de 27.000 minutos.
Para que a claque do Nacional se canse são precisos mais de 3.000 minutos de chinfrineira.
Para que o Jorge Jesus provoque repulsa só precisamos de 3 minutos. 1 minuto. Pronto, alguns segundos. Poucos.
E para que José Mota se queixe da arbitragem nem é preciso esperar, é só perder um jogo.
Mas para contar uma boa história são precisos 90 minutos.

90 minutos – a rubrica da Cromos da Bola, SAD, que analisa os factos marcantes da bola lusa. Sem censura. Hoje, a última parte da reportagem que faltava sobre a mítica Skydome Cup, o único título do futebol sénior português.

Ela foi disputada ao milímetro entre a Lara Li e a Ana Zanatti
26 de Janeiro de 1995. Toronto parou para encher em massa a Skydome, num frenesim sem precedentes no país da folha de plátano por causa daquele desporto bizantino, em que não eram necessárias camisolas chumaçadas nem capacetes. Talvez estejamos a exagerar – afinal, compareceram apenas 13.658 almas. Não foi por motivos económicos: os bilhetes custavam entre 9 e 25 dólares canadianos, o que pode ser considerado acessível, para mais considerando o poder de compra local. Até Secretário achava que sim. “Era difícil ir às putas por menos de 70 ou 80 dólares. E só estou a falar do beijinho. Para que nos atassem à cama, vestissem cabedal, levassem o chicote e por aí além era 200 dólares no mínimo, sendo que 100 tinham de ser pagos à cabeça. Nunca tinha visto nada igual. Por isso, penso que os bilhetes eram francamente baratos”. Nas bancadas, eram essencialmente as bandeiras verde-rubras das quinas que se agitavam ao vento do ar-condicionado da Skydome. Podia dizer-se que Portugal jogava em casa, senão por aquele ambiente abafado de pavilhão e um tapete verde que era literalmente um tapete sintético da chamada AstroTurf, em que até era possível vislumbrar as separações entre as faixas ao longo do terreno de jogo, à laia de uma carpete mal amanhada. “Parecia daqueles relvados de massapão dos bolos de aniversário para os putos”, sugere Pedro Barbosa. “A minha primeira reacção foi trincar aquilo”. “A minha primeira reacção foi trincar o Alex”, admite por seu turno Jorge Costa. “Ele tinha cara de Weah”, justifica. E já que falámos em verde-rubro umas linhas acima, convém realçar que a Skydome Cup foi uma competição eminentemente maritimista. A turma madeirense contou com 4 jogadores nesse Canadá – Portugal: Vado e Paulo Alves do lado cubano; Alex e Fernando Aguiar do lado contrário. Aguiar também jogava o seu primeiro encontro com as cores do Canadá. “Estreei-me internacionalmente num jogo entre amigos, que mais um moço simples como eu podia pedir?”, diz-nos um bem disposto Aguiar. “Bom, só podia pedir para que não chegassem muito perto, porque eu, pronto, de vez em quando falhava na bola e podia aleijar. Eheheheh! Estou a brincar! Eu nem sei o que é uma bola”! E, para completar o ramalhete das novidades, até o árbitro auxiliar era uma mulher.

Vado, criativo lusitano, desequilibrado pela fleuma 
neo-hippie de Nico Drasovic no tapete da Skydome.
O jogo começou bem para as hostes lusas. Folha, lesto, ziguezagueou por entre a floresta de matraquilhos que era a defesa canadiana e bateu o guardião da casa, com uma bela vestimenta da moda à laia de Botende, com um remate por entre as pernas deste. Pese embora o recorte técnico do lance, Folha possui memórias difusas do lance. “Sei que fintei um e depois coloquei a bola nas redes”, conta-nos, “mas depois… ficou tudo escuro, só acordei na palestra ao intervalo e disse para mim mesmo «Bolas, onde estou? Então mas não tínhamos acabado de cantar o hino»”? Folha tinha sido vítima da estranha comemoração que era a tradição entre jogadores portistas – o marcador do golo era violentado fisicamente por intermédio de chapadas, carolos, pontapés e tudo o mais que a pérfida imaginação de Paulinho Santos conseguisse engendrar. Felizmente para ele, apenas Secretário e Jorge Costa estavam na Skydome. “Tive sorte, pois cheguei a ver o Domingos a ser suturado com cinco pontos no lábio e a ficar com o sobrolho aberto depois de um grande golo. Desta vez fiquei só com amnésia temporária. Mas eu sei que o Baroni uma vez fez um golo à Maradona nos treinos e, depois da festa que fizemos à volta dele, ficou como todos sabemos”. Durante o resto do jogo, a equipa portuguesa deixou-se embalar pelo conforto e pela aparente debilidade do adversário. Pedro Barbosa descalçou-se para melhor sentir o feng-shui que emanava da carpete, Rui Bento começou a ler o livro “Baresi – Uma História de Vida” sentado na meia-lua e Sá Pinto começou a praticar taekwondo com a sua sombra, por exemplo. E eis quando, num livre perto do final da partida, Neno decidiu sair dos postes para esticar-se um bocadinho e apanhar uma bola alta. Como era costume, falhou miseravelmente. Ninguém o levou a mal. O Neno era um tipo porreiro e já todos sabiam que um cruzamento era meio-golo. Tomaram o acontecimento como uma inevitabilidade. “Foi pena”, admite Neno, “senti que estive bastante afinado durante o jogo todo, os emigrantes estavam a gostar do meu reportório, desde Júlio Iglésias a Cesária Évora, e distraí-me quando alguém pediu por um bis”. O maior azar foi Alex, quem mais?, estar lá para encostar. 1-1.

“É o delírio!”, exultou Miguel Prates
29 de Janeiro de 1995. O tudo ou nada, com uma multidão de 23.700 espectadores a assistir. Uma vitória dava a taça. O adversário era o campeão da Europa, mas apenas com elementos a jogar no seu país, tal como nós, e o empate servia-lhes. Ciente da importância deste jogo, António Oliveira, qual louco, decide jogar com um ponta-de-lança de raiz, Paulo Alves. Todos ficaram a perceber que a coisa era a doer, para mais se pensarmos que os playmakers eram Nelo e Vado, com a rapidez de Pedro Barbosa e a acutilância de Folha pelas alas. “O mister estava doido”, assegura-nos Paulo Madeira. “Vimos os seus olhos de fúria quando nos revelou que íamos jogar com dois extremos mais ou menos abertos e apenas dois trincos, sendo que um até costumava passar do meio-campo. Era uma táctica temerária… E ainda havia mais um avançado e um extremo no banco! Acho que o Taira se acagaçou todo com as responsabilidades”. Foi verdade? “Não, não, eu nem sequer fui ao Canadá”, nega Taira, algo incomodado com a questão. “Mas devia ter ido! Agora, se me perguntam por um suspeito… Eu acho que foi o Barroso”.“Prefiro não comentar”, responde Barroso, enquanto se tranca no WC, despedindo-se abruptamente da nossa reportagem. Regressando ao jogo, o tempo passava e o nó não se desatava. Rui Bento sai para dar lugar a Tulipa. Ficámos a jogar apenas com um médio defensivo, que ousadia. Depois Vado, acusando a pressão, cede para entrar Sá Pinto, que foi correr lá para a frente à sua maneira, tipo barata-tonta. Cheirava a desespero. E por fim, a clássica troca de extremos, Folha por Caetano. Tanta profusão atacante era uma coisa inimaginável. Já era tudo ao molho e fé em Deus. Minuto 89. Jorge Costa, destemido, ultrapassa todas as convenções e leva a bola como pode pelos dinamarqueses, que ficam atordoados como se estivessem no olho de um furacão, entrega a Pedro Barbosa, este ginga até à linha de fundo como uma serpente que hipnotiza os passarões nórdicos, cruza, a bola sofre um desvio e Paulo Alves diz que sim com um pontapé de belo efeito. O momento alto de uma carreira? “Talvez”, admite por entre sorrisos. “Lembro-me que festejei como se estivesse a fugir do bafo do Presidente Fiúza, o que atesta bem da minha felicidade”. Segue-se a celebração colectiva, merecida, destes valorosos guerreiros. “Até eu corri à volta do pavilhão dessa vez, tamanha foi a festança”, conta-nos Pedro Barbosa. Caetano diz-nos “eu queria festejar, a sério que queria, porque podia ser a última vez que iria festejar qualquer coisa de jeito que não fosse o meu aniversário, o que até se veio a provar verdadeiro, mas durou pouco porque o roupeiro enganou-se, arrumou-me junto das bolas e não mais consegui sair de lá. Viajei de volta dentro do porão do avião”.
 

Quem mais carismático que o capitão Nelo 
poderia alardear esta taça aos céus?
Skydome. O nome que associamos a sapatilhas sem pitons, jogos a altas horas da noite por causa do fuso horário e a uma taça erguida por Nelo. “Sei que vão tentar minimizar o meu impacto na história do desporto português”, acusa um dorido Nelo, incapaz de calar o que pressente ser uma enorme injustiça. “Os registos fotográficos estão aí: fui eu o capitão dessa equipa. Mas hoje só querem falar da minha época no Benfica, do meu cabelo e do meu nome pouco mediático, que o Herman José ajudou a não dignificar. É triste”. Hoje em dia, o espaço Skydome que conhecíamos já não existe. Passou por algumas agruras após esta grandiosa vitória portuguesa, ao jeito de um estádio do Euro-2004, e foi considerado “um elefante branco”. “Sei bem o que isso é!”, atira prontamente Secretário, com os olhos a brilhar e as mãos em actividade dentro dos bolsos das calças. Abriu falência em 1998, foi comprado por 85 milhões, depois vendido à Rogers Communications em 2004 por apenas 25 milhões de dólares – ou seja, apenas 4% do custo inicial – e foi redenominado Rogers Centre. Mas a taça do nosso contentamento, o nome que ficou indelevelmente cravado nos nossos corações, será sempre Skydome.

terça-feira, agosto 28, 2012

Skydome Cup: A Taça Que Veio Do Frio (Parte I)


Para surgir um jogo em que o Javi García não mereça cartão são precisos mais de 6.000 minutos.
Para aparecer um golo de Wolfswinkel esperamos cerca de 900 minutos.
Para que o Vítor Pereira seja assobiado são necessários 5 minutos.
E para que o Nélson Oliveira fosse considerado um grande jogador demorou apenas 0,2 minutos.
Mas para contar uma boa história são precisos 90 minutos.

90 minutos – a rubrica da Cromos da Bola, SAD, que analisa os factos marcantes da bola lusa. Sem censura. Hoje, a reportagem que faltava sobre a mítica Skydome Cup, o único título do futebol sénior português.

Entalada entre a Geração d’Ouro e a Geração Scolari viveu a Geração Skydome. Remetidos a um agoniante anonimato, estes heróis desvalorizados conquistaram o único título do futebol sénior português. Mais ainda: foram a única selecção de futebol sénior europeia a trazer um título de fora do seu continente no século XX. Mas nem por isso mereceram a gratidão do adepto luso. “Fomos escorraçados como ratos do navio da História”, lamenta-se um amargurado Nelo, o capitão desta ínclita geração. “Tinha o mundo todo à minha frente, estava no auge da minha polivalência… e ainda tinha cabelo; um cabelo estranho, mas, caramba!, era cabelo!”, prossegue em jeito de desabafo, com os olhos humedecidos colocados nas suas botas de bicos afiados e gestos bruscos das mãos que entram e saem dos seus jeans Sóveste. Nelo sente a injustiça a ferver nas veias e depois resigna-se, pontapeia desajeitadamente uma pedra no caminho que sai pela linha de fundo da vida e diz como forma de consolação “’sa foda, o Tavares nem calçou, por exemplo, e eu pelo menos levantei a taça”.


A cumplicidade entre Nelo e Tavares tornou-os num ícone pop 
de Portugal dos últimos 50 anos, a par de outras duplas famosas.
Estávamos no início de 1995. Nelo e Tavares davam cartas no embaralhado Benfica do Rei Artur e tudo lhes era permitido. A Lisboa cosmopolita e soalheira de final de século dissimulava perigosas tentações para esta dupla infernal. Para eles, esta cidade tornou-se numa Las Vegas de excessos, a urbe de todos os pecados, a capital de todas as orgias. Nelo recorda-se bem dessa demência descontrolada: “Foi nessa altura que me chutei pela primeira vez”. Pois, o pesadelo das drogas. “Não, foi um movimento peculiar que inventei num treino, que consistia em pontapear-me a mim mesmo quando fingia passar a bola. Toda a gente ficou maluca. E eu deixei-me levar. Levantava-me de manhã já só a pensar no próximo chuto, foram meses só a pensar quando me ia chutar. Gastava todo o dinheiro no bingo e em caneleiras que se partiam ao fim de dois ou três treinos. Já estava todo marcado, até no cu me chutei. E depois, vieram as mulheres. Ah, as mulheres do Benfica... Tinha as mulheres todas que queria: a Leonor Pinhão, aquela desdentada do 3º anel, a gaja do garrafão, a preta mamalhuda que nunca se lavou, enfim, estava no paraíso. Aquilo afectou a minha qualidade de jogo, como é bom de ver”. Eram tempo doidos, de facto. O frenesim das grandes metrópoles sentia-se nos ensejos de multiculturalismo que latejavam. Bonga arribava pelos tops e, não muito depois, Iran Costa fez a sua homenagem a essa louca Lisboa, com um arrojo visual que deixava transparecer o psicadelismo muito intrínseco da época. E, quando o campeonato parou a seguir ao Natal, a FPF aceitou esse convite à internacionalização e um cachet de 200.000 contos (997.596 euros) para se deslocar ao Canadá e fazer duas partidas de futebol indoor contra os anfitriões e a Dinamarca. António Oliveira, o seleccionador, estabeleceu uma quota de três jogadores por clube grande e os eleitos do Benfica foram Nelo, Paulo Madeira e Neno, riscando assim da história Tavares, o eterno compincha de Nelo. “A nossa relação nunca mais foi a mesma a partir daí. Deixámos Lisboa ao fim de pouco tempo, largámos aquela vida maldita e ainda aguentei mais dois anos em comum. Mas já discutíamos por tudo e por nada, senti que perdêramos a chama da paixão e o divórcio foi inevitável”. Inveja? “Talvez. Mas eu perdoo-o; o Tavares também estava muito consumido por aquele ambiente e chegou a sofrer do síndroma-Barroso”, referindo-se a uma célebre, e embaraçosa, indisposição intestinal que acometeu o seu ex-colega em Milão.


A volta de consagração dos heróis de Toronto em tons sépia 
(para parecer mais heróico)
Entre polémicas e surpresas, a Selecção aterrou em Toronto com 13 graus negativos naquele final de Janeiro de 1995. Privada de grandes nomes por força da pressão dos grandes clubes nacionais e europeus, depositou as suas esperanças em nomes menos sonantes, à laia dos “seabrinhas” uns anos antes, mas nem por isso menos virtuosos. Como o então vimaranense Pedro Barbosa. “O que mais me custou foi ter que degustar aqueles muffins gigantes e as saudades do belo croissant”. Ou Sá Pinto. “Estava a começar a expor o meu futebol. E também ainda tinha dentes de vampiro. Mas só tinha aspecto de mau, nem uma bofetada no José Romão era capaz de dar nessa altura sem que me doessem os dedos”. Ou ainda Calado, ainda virgem no que a internacionalizações concernia. Mas Calado optou pelo silêncio, declinando falar connosco. Mais jogadores foram desflorados com a camisola principal das quinas, marca Olympic, como os baixinhos Vado e Caetano.
Caetano, o ratinho atómico de Santo Tirso, lembra com ternura a oportunidade que teve de vestir aquela camisola, enquanto sobe a um banco para se aproximar do nosso gravador. “Aaah, adorei! Aquele design de camisola era fantástico! Aquilo servia-me de camisola, calças, meias, avental e cobertor. A expressão «vestir a camisola» adequou-se-me muito bem; aliás, eu não precisava de vestir mais nada para ficar todo coberto”. Vado, a quem o sucesso voltou as costas, foi outro português deslumbrado. “Foram os melhores momentos da minha vida, que guardo com enorme orgulho. Finalmente, alguém reconhecia o meu valor. O facto de ter sido o primeiro a ser substituído em ambos os jogos quando era preciso acrescentar algo à equipa e de nunca mais ter sido chamado não me beliscou minimamente”. Quem lhe beliscou, entre outras diatribes, foi Jorge Costa. O ex-central sentiu-se incomodado por ter tanta gente estranha à sua volta, como nos revelou num registo desapaixonado. “Pensava que eram emigrantes que tinham vindo para a construção civil cá para o Canadá, ó caralho… Raio de gente esquisita… Foda-se, quem é esta gente, caralho?!? Apeteceu-me mandar-lhes logo uma cotovelada nas trombas. Mas depois o Secretário disse-me, «eh, pá, ó Bicho, tem lá calma com essas cenas, senão ficamos sem gente para o ataque» e eu, ah, o caralho, e a quem a que eu mando fruta, deves pensar que vou ficar aqui ao frio sem mandar pau a ninguém, e ele «ah e tal, tens de te controlar» e eu, pois é, ó Secretas, e tu também vais ficar estes dias todos sem bater umas punhetas lá no quarto, queres ver? E ele «eh pá, não ‘tamos a falar das mesmas cenas», e eu, não ‘tamos o caralho, qu’esta merda também é uma necessidade básica para mim, e ele lá se calou e eu mandei um calduço no Caetano, ou no Vado, sei lá, que o virou ao contrário e fez com que ele fosse dar com as trombas nas costas do Paulo Alves e depois o Paulo Alves ficou com aquele nariz todo saído para a frente desde essa altura. Mas ficámos todos amigos no final da competição e nunca mais lhes bati. Pelo menos, com muita força”.


Eis uma amostra dos estágios de Portugal no estrangeiro: 
uma verdadeira escola de virtudes.
O local dos jogos foi a moderna Skydome, que emprestou o seu nome à competição, um novel ex-libris – ou mamarracho, consoante a perspectiva – do Ontário. E otários não foram os jogadores. Segundo o que os próprios responsáveis federativos confidenciaram, aconteceram episódios “caricatos”, quiçá roçando o rocambolesco, que é um adjectivo normalmente aplicável aos portugueses quando vão para longe da pátria em grandes grupos, vide Saltillo e Coreia-Japão. Alfredo, o guarda-redes que cantava menos entre os eleitos para defender os postes, levantou a ponta do véu. “Eheheheh… o que eu curti!… Meu, o que eu curtiiiiiiiiiii… bem, aquela cena do tipo que vai assim com a tipa que… eiiiich!, meu, eheheheheh!, meu, só visto, ‘tás a ver? Bem, e aquela do outro que caiu em cheio com o queixo em cima da cena que o outro meteu a fritar no quarto da… ena pá! Ganda cena, meu! Mas não quero dizer mais nada… podia contar aquela em que nós fomos atrás dos outros que iam com a coisa de fora a abanar pelo meio do coiso até aparecer o fulano com o sicrano e disse aquilo do sócio do gajo que até era cunhado do tal… mas não quero lançar suspeitas à toa. Só sei que curti com’ó caraças! Perguntem ao Tulipa”. Mas Tulipa não adiantou muito. “Quem? Eu? Desminto categoricamente. Eu estive lá? Duvido. Eu fui campeão de juniores em Lisboa, isso sim”… Tulipa esteve por lá, sim. Discreto e atordoado pela convocatória, mas presente, ele que andava naquela altura entre o Belenenses e o Salgueiros a espreitar um arranque de carreira que nunca se concretizou verdadeiramente, pese embora os 20 minutos de competição na Skydome. Ainda assim, melhor que Barroso, o lançador de torpedos bracarense, que entrou a um minuto do fim do primeiro jogo para inverter a tendência. “O mister lançou-me e deu-me ordens muito concretas: é para ir lá para o meio e não fazer rigorosamente nada, para não sair merda. Ele já me conhecia bem e sabia que eu era propenso a fazer merda. Se houvesse um livre, então eu mandaria o balázio do costume. Mas não houve”. E assim, a marca de Barroso nesta competição foi completamente ofuscada. “Mas não me arrependo de nada e hoje julgo que a minha vida é muito melhor depois da Skydome Cup. A Skydome foi o Imodium Rápido que eu nunca tive”, assume, sem remorsos.

Pois é, a Skydome. Custo de construção: 625 milhões de dólares canadianos. Inaugurada em 1989, albergou jogos de futebol canadiano, beisebol e até de basquetebol a partir desse ano de 1995. Foi a primeira arena da América do Norte a possuir um tecto completamente retráctil e funcional. Dela disse o presidente da entidade gestora do recinto aquando da inauguração: “The name has a sense of the infinite and that's what this is all about”. O conceito a reter é o infinito. E, nem de propósito, foi aqui que as hostes lusas se lançaram para a imensidão da eternidade, para os braços meigos da glória perene.

quinta-feira, agosto 23, 2012

Gimme a "C"!!!

Accioly é um jogador brasileiro que joga no Santa _lara. 
Accioly _ome_ou no Esporte _lube da Bahia, e _hegou à Europa pre_isamente por intermédio do _lube a_oriano. 
Accioly joga a defesa-_entral e é um dos esteios da forma_ao mi_aelense. 
_om 31 anos de idade, Accioly _ontinua a pro_urar a letra "C". 

Pede-se en_are_idamente a quem _onhe_er o seu paradeiro, que a entregue na Rua _omandante Jaime Sousa, nº 21, Ponta Delgada. 

Accioly, o defesa-_entral, a_redita piamente que tudo o que o separa de uma _arreira históri_a no futebol luso é pre_isamente esta _urva _onsoante. 

Julgando pela equa_ão anexa, é difí_il _ontrariar essa sua expe_tativa. 



Os votos da equipa _romos da Bola, SAD são de esperan_a e boa fortuna para que Accioly en_ontre a letra que o levará a atingir a _alva eleva_ão a futebolista de ex_ep_ão, pleno de _riatividade, _arisma e _apa_idade de lideran_a.

sexta-feira, agosto 17, 2012

Pão Que O Diabo Amazou


Diariamente, milhentas cartas e incontáveis e-mails atulham as nossas caixas de correio. São muitos os pedidos, como “já é tempo de ter o Caio Júnior por aqui!”, “exijo uma recontagem das sílabas do Panandetiguiri!” ou “façam amor com as nossas esculturais esposas, por favor!” (este último pedido geralmente acompanhado por um vídeo sugestivo), mas há um pedido em particular que sobressai:

- “Mestres da cromicidade, quem foi o Mazo?”

Pois bem. A confusão é compreensível e Mazo um nome dos mais enigmáticos do futebol português da década de 90. Se procurarmos por “Mazo” no Google Images, o que nos poderá surgir é isto:

Temos aqui o pontapé de saída. Mazo era um centrocampista cuja técnica subtil se assemelhava a um rudimentar martelo de madeira. Mas vós quereis mais que uma simples metáfora, desejais tocar no âmago da questão como Luisões esbaforidos em direcção ao árbitro. Procurando um pouco mais, talvez vos depareis com este simpático senhor:

Pelo aspecto, até podia ser o Mazo que buscáveis. Mas não, este é somente um homónimo bielorrusso do Mazo que vós procurais. Um Mazo filarmónico, um pedagogo transcontinental, um bigode em si bemol. Estamos perto. O Mazo que pretendeis é este, senhores:

Oficialmente, Mazo responde pelo nome de Josemar Araújo Santos e é o tipo da esquerda; pelo sim, pelo não, também colocámos o Danny Trejo, pois podia subsistir a ideia de que o Danny é a versão envelhecida do vigoroso Mazo dos tempos áureos do Estrela da Amadora na Divisão-mor do nosso estimado campeonato.
Tempos áureos… e também tempos geriátricos.

Mazo era conhecido como o pistoleiro de Timbaúba, algures entre Camutanga e Macaparana, lá no Planalto da Borborema, em Pernambuco; Timbaúba, a terra de todos os sonhos, uma Sirinhaém em ponto maior, porém não tão grande quanto Jaboatão dos Guararapes. Ainda jovem, nem com 25 Outonos cumpridos, rubricou em 1994/95 a sua segunda e última época na terra outrora conhecida como Porcalhota (é verdade, até veio n´”Os Maias” e tudo – consultem os vossos Apontamentos Europa-América), completando assim uma torrente de toponímias esquisitas que lhe adocicaram o currículo.
Um benjamim, portanto. Naquele plantel, tal como num certo país atlântico nos dias de hoje, isso era presságio de desgraça. Atente-se nalguns outros bebés daquele plantel: Calado (palavras para quê?); Gil Gomes (é verdade, esse mesmo); João Peixe (primo do Emílio e que representou mais clubes do que aqueles que humanamente conseguiríamos reproduzir num único post); Tico-Tico (um moçambicano que prometia fazer cócegas à grandeza de Eusébio e que, estranhamente, nem sequer ficou para a história pelo inusitado do seu nome); Christian (teve de fugir dali enquanto era tempo mas ainda demorou alguns anos a recuperar do choque) e Paulo Ferreira (provavelmente, o extremo mais anafado de toda a história).
Decididamente, aquele clube não era para novos. A menos que se chamassem Rui Neves. Porque se se chamassem Birame, o mais certo era acabarem a vender artesanato senegalês na feira.
Aquele era o clube de Hubart (o Chilavert à moda da Bélgica), de Rebelo (o eterno estrelista que ainda hoje bateu à porta do Estádio José Gomes a pedir para treinar), do Senhor Bigode (leia-se Agatão) e também de Fonseca, Paulinho, Edmundo, Quim Machado, Fernando e Rui Águas – nenhum deles com menos de 28 anos e alguns com mais de 35 (o Rebelo já devia ir nos 55). Era um plantel com muita tracção defensiva e onde Mazo sentiu inesperadas dificuldades em assentar todo o seu reportório de maus tratos no esférico, certamente inibido pelo fulgor de um Taira, que fazia olhinhos marotos à Selecção, de um Koncalevic que possuía um nome balcânico que abafava aos pontos a singeleza da sua alcunha, ou de um superlativo Mário Jorge, que conseguiu a proeza de assinar pelo Sporting e Benfica sem nunca jogar nenhuma partida pelos dois.

Era o destino a empurrar Mazo para fora da ribalta e Mazo não foi contra o destino. Abraçou-o e, mal saiu da Amadora, desatou a correr clubes que ficassem, de preferência, na confluência dos distritos de Santarém e Portalegre – que, como todos sabemos, sempre produziram futebol condizente com o gabarito de Mazo. Por ali se deixou ficar como treinador. Sucumbiu à voragem dos tempos e disse adeus ao bigode. Agora, pode festejar os títulos distritais que quiser, mas, sem bigode, já não tem graça. O Danny Trejo é que a sabe toda.
Quanto ao Estrela, todos desejamos a sua recuperação. Até mesmo um conhecido galã da nossa praça:

domingo, agosto 12, 2012

Filhote, uma vida cheia de sorte.. e já agora Robson

O Cromos da Bola obteve uma conversa exclusiva com um jogador de futebol.
Tivemos acesso privilegiado no início da carreira de um jogador, pelo que vamos agora partilhar com toda a nossa audiência.

" - Meu filho, meu bebé, desejo-.te uma vida cheia de sorte - diz a mãe.
 - Não, mãe. A vida é trabalho e cada um faz o seu caminho - diz o filho.
 - Sim, filho mas já que te estou a lançar para uma vida, quero que sejas feliz. Que tenhas muito boa sorte no teu futuro.
 - Obrigado mamãe e papai, Deus estará sempre connosco e comigo no caminho. É preciso é levantar a cabeça quando as coisas nao correrem bem.
 - Pois filho, e com a graça de Deus vai ser feliz. Nem que seja aqui em Guanabi.
 - Guanabi, mamãe'? Eu gostava de jogar no União Timbó ou mesmo no Paduano!
 - Quê filho? Paduano?
 - Si, graças a Deus será um bom clube para mim! Lá poderei ter sorte.
 - Mas meu filho, a sorte estará sempre contigo. Mas tens que jogar no Guanambi! quem sabe isso te dará altos voos e jogar na Europa, que é sempre importante.
 - Sim, mamãe. Eu prometo que vou lutar para jogar na Europa. Nem que seja num clube de uma freguesia do Porto, que joga na distrital! Está na Hora! acho que ó nome desse clube é Senhora da Hora.
 -  Muito bem, filhote .Denoto aí ambição e crença e fé e crença e fé , e acreditar.. e fé..e graças a Deus... olha sabes que mais filho Robson?  Robson, Boa Sorte Filho!!"

Pedimos desculpa pela má qualidade de imagem e do som que transmitimos, mas em Guanabim não é fácil!

Bem vindo Robson Boa Sorte Filho.
http://www.zerozero.pt/jogador.php?id=220109&epoca_id=0&search=1



terça-feira, agosto 07, 2012

Vitorino, o Emigrante



"vai devagar, emigrante"
Verão de 2007. 

Brota um dia de sol abrasador na verde Freamunde, e o jovem Vitorino vai ao café do costume ter com os amigos do costume, montado na Casal-Boss do costume.

Um dia normal para o moço, que colocara cuidadosamente o capacete amarelo do Pai na cabeça, de forma a não atrapalhar a acre sensação de paz transmitida pelo SG Ventil pendurado no canto da boca. 

Lá vai Vitorino, filho da terra, estimado por todos, transmitindo carradas de monóxido de carbono para a atmosfera. 


Lá vai Vitorino, inimigo público número um da camada de ozono, cumprimentando todos à sua passagem. 

O Acácio da frutaria, que acena carinhosamente. 
O Sr. Fialho da drogaria, que lhe cospe impropérios derivados da falta de paciência para com o infernal chinfrim vomitado pelo escape da motorizada. 
O Macedo da sala de chuto, que lhe endereça um salutar e bonacheirão "Tudo de bom!" de bochecha rosada. 

Vitorino chega ao café, coloca cuidadosamente uma viscosa bisga no canto do passeio e estaciona a Casal-Boss em cima dos caixotes de fruta. 
"É mesmo à Vitorino", exclamam sorridentes (e babados) os convivas que vegetam à porta do estabelecimento, sinceros admiradores da técnica apurada na arte de endereçar uma bela e consistente bisga enquanto se mantém simultâneamente um SG Ventil repousando nos lábios. 

Vitorino, o orgulho de Freamunde, é abraçado por todos e cumprimentado com os mais doces impropérios (e simpáticas referências à idoneidade de sua Mãe), sinal do mais belo e sincero male-bonding. 

Nisto, o Hino da Alegria enche o estabelecimento - em versão midi. 

É o alcatel do Vitorino, que toca impaciente. O jovem saca da pequena bolsinha preta CK pendurada ao cinto e leva o aparelho à boca. 
Segue-se um alegre porém digno "Atão, caralho?" 

Mas cedo se dissolve o ar casual de Vitorino. 
O sobrolho franze-se em tom de atenção redobrada. 
Adopta um semblante sério, profissional. 

Algo se passa. 

Os convivas em seu redor ignoram-no, viram a sua atenção para o novo videoclip da Ana Malhoa, que agracia os ecrãs da TV do café, obra e graça do Made in Portugal.
Vitorino retorque à chamada telefónica em staccato de tom afirmativo e expectante. 
- "tá bem, caralho", são as últimas palavras docemente proferidas pelo jovem antes de voltar a guardar o telemóvel na sua bolsinha de cinto Louis Vuitton. 

Sem expressão na ruborizada face, Vitorino caminha em direcção ao inerte grupo ainda fixado nos atributos da filha de José Malhoa. 
- "Bou pró caralho mais belho", afirma com a costumeira suplesse. 

O inesperado anúncio cai em saco roto, dado o fascínio do bando com as saltitantes insígnias da jovem artista de variedades na TV. 

- "Bou pró caralho mais belho!!!!!!", vocifera novamente Vitorino na tentativa de chamar a atenção da horde. 

Faz-se silêncio. Aliás, a TV estivera em mute todo este tempo. 

- "Para onde, caralho?", indaga expectante o mais anafadito do grupo, um senhor de meia idade de t-shirt branca com a inscrição "Freamunde Quase Capital do Móvel". 

- "Sei lá. O gajo disse Roma. Onde é essa merda, caralho?", questiona gentilmente o jovem, ainda semi-abananado com a notícia. 


"Io sono spettacolare"
Instala-se a confusão. Cada cabeça, sua sentença. 

Porém, a conclusão é quase unânime, e solenemente transmitida pelo Zé Coxo, jovem trintão de boné JCA ofertado pelo Zé Mota no final de um inesquecível Paços 1 - Ovarense 1 em 2004. 
- "Oube lá, Bitorino...essa merda é no estrángeiro." 

A notícia atinge o mancebo como uma carícia matrimonial do Paco Bandeira: 
- "Eu? No estrángeiro? Mas a única bez que fui ao estrángeiro foi quando fui jogar com o Freamunde à Lixa", asseverou um Vitorino confuso com a geografia nacional. 

- "Ouvi dizer que no estrángeiro as pessoas têm 3 metros de altura e cabelo verde", afirmou cauteloso o senhor anafado. 

Perante o ar cada vez mais assustado de Vitorino, o tipo mais magrinho do grupo - conhecido por ser o habitante de Freamunde com a maior colecção de postais do Bozinoski de férias - pôs água na fervura. Eis Quim Cowboy, boçal e roufenho: 
- "Caro amigo, excelentíssimo colega de viagem na sinuosa auto-pista da vida. Peço mil perdões por interromper esta salutar tertúlia de cariz geográfico, porém penso ter informações relativamente ao paradeiro de tal metrópole. Assevero-o de forma absolutamente humilde e despretensiosa, dado que a máxima socrática "só sei que nada sei" se mantém curiosamente actual. Todavia, creio que vos referis à Pátria de Vittorio Emanuelle II." 

O silêncio torna-se ensurdecedor, apenas quebrado pelos súbitos urros do confuso bando. Zé Coxo enrola-se em posição fetal, agarrado à cabeça. Toni Viagra esmaga cadeiras na parede, qual incrível Hulk tomado de fúria. Dois dos restante convivas berram desesperados, enquanto estilhaçam garrafas de RC Cola na testa. 

Contudo, Vitorino fita Quim Cowboy de olhos arregalados e tom sereno, exortando-o afectuosamente a desenvolver o tema abordado: 
- "Oube lá, queres levar um testo na fronha? Fala português, caralho." 

Quim Cowboy ajeita nervoso o chouriço que guarda no bolso da camisa Fabio Lucci, beija sofregamente o cromo de Pesaresi que traz sempre consigo na carteira, e solta um ansioso "Itália". 

- "Ô?", indaga sagazmente Vitorino. "A cena das pizzas?" 

- "Certamente, camarada. A Itália, oficialmente denomeada República Italiana, é uma república parlamentar unitária localizada no centro-sul da Europa. Ao norte, faz fronteira com FrançaSuíçaÁustria e Eslovénia ao longo dos Alpes. Ao sul.." 

A grosseira exposição de Quim Cowboy é felizmente interrompida por uma garrafa de Snappy que encontra ruidosamente a parte de trás do seu crâneo. 

Vitorino dirige-se calmamente para a saída, enrolando um pensativo elástico entre os dedos, de olhar fixo no chão. A sua vida está prestes a mudar. 
O jovem cantarola entredentes as primeiras estrofes da melodia "Sonhos de Menino", de Tony Carreira. 

De semblante sonhador, ergue suavemente o queixo e balbucia com elegância: 
"Sou um emigrante, caralho." 

Cinco Verões volvidos, Vitorino está de retorno à casa de partida. 
Roma ficou para trás, e os sonhos adiados. Na caçadeira futebolística carrega agora as memórias de tiros disparados na prestigiosa Liga dos Campeões da UEFA, carrinhos mal temporizados em San Siro, passes transviados no Delle Alpi e um olhar crítico in loco à crise da dívida grega. 
Pelo meio, um "buenos dias Matosinhos" com os "aviões lá 'trás" e a indignidade do clube detentor de seu passe ter pago 270,000 € para se livrar dele por uma época. 

Verão de 2012. 

Brota um dia de sol abrasador na verde Freamunde, e o jovem Vitorino vai ao café do costume ter com os amigos do costume, montado na Casal-Boss do costume. 
Um dia normal para o moço, que coloca cuidadosamente o capacete amarelo do Pai na cabeça, de forma a não atrapalhar a acre sensação de paz transmitida pelo SG Ventil pendurado no canto da boca, e sussurra sorridente: 

"Estou de volta, caralho." 
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